Vanishing act: um fenómeno cinematográfico e paradramático.
It must be nice to disappear/ To have a vanishing act/ To always be moving forward/ And never looking back/ How nice it is to disappear/ To float into a mist."
Tantos são os fenómenos, sobretudo dramáticos, que o cinema usa (e que a teoria do cinema gosta de citar): prenúncios de que algo vai acontecer ( vulgo, foreshadowing), a introdução de sementes que mais à frente se colhem ( vulgo, setup e payoff), criando uma consistência orgânica do tecido dramático, uma espécie de jogo de semelhanças com a vida, ainda que artificialmente produzida, como aqueles acontecimentos em que reparamos vagamente, mas cujo alcance apenas mais tarde podemos compreender. Os pretextos (os famosos McGuffins), tantas vezes enigmáticos e incompreensíveis, que justificam as acções das personagens, as falsas pistas, que nos fazem seguir um trajecto ou acreditar num mundo que a dado momento parece possível, revelando-se mais tarde um erro ou uma simples impossibilidade. Os filmes como miniaturas da vida, seus processos e fenómenos, jogos de semelhanças. Mas há um fenómeno especial que surge numa espécie de intervalo dos maiores e menores acontecimentos dramáticos, não os explicando, nem necessariamente implicando, não os desenvolvendo, nem propriamente envolvendo, um fenómeno a que poderíamos chamar vanishing act, definindo-o como paradramático (sim, como paranormal). Filmes como Fechar os Olhos (Erice), Viagem a Cítera (Theo Angelopoulos), A Aventura ou O Eclipse (Antonioni), entre outros, souberam muito bem apresentar este fenómeno, por terem reconhecido nele a sua natureza especificamente cinematográfica, funcionando inversamente, isto é: do cinema para a vida.
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