da escrita que vem dos filmes

não partilho da convicção de que exista uma metodologia para analisar ou para escrever sobre filmes. ou talvez, se colocarmos assim, "sobre filmes", possa haver, de facto. sobretudo não creio que a análise de um filme possa ser equilibrada, quer dizer, que se debruce exaustivamente sobre uma lista de pontos sobre os quais, aparentemente, o filme tocou, como uma experiência acabada e fixada.

para mim, é a experiência de um filme, da vida que vem desse filme, que suscita uma necessária cartografia afectiva e conceptual e é essa cartografia ou esse trajecto ou percurso que deitamos para a folha de papel ou virtual, numa tentativa de responder à pergunta: "o que é que se passou?" sabendo, de antemão, que a resposta a esta pergunta não é o que queremos, mas apenas a descrição de uma aventura, de um trajecto, que se prolonga na folha e que, correspondendo à formulação de um problema, se tenta comunicar.
não somos afectados equilibradamente pelas diversas partes de um filme. pode haver um gesto, um plano, um corte, uma cena, um acontecimento qualquer que tome conta de nós e então precisamos de o retomar, traduzir, desmembrar, transportar para outro contexto. e muitas das vezes isso não é possível, porque as intensidades não se deixam desmembrar, e então começamos a tentar descrever pequenas coisas ou percepções que foram afectados por esse acontecimento. este processo, sobretudo enquanto processo amoroso, não pode ser sem falhas, pelo contrário, será sempre incompleto e parcial, mas é justamente a partir destas falhas que se constrói o mapa.

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